” Eu só quero o que todo mundo quer, mas pra mim parece mais difícil de conseguir.” (Judy Garland)
Baseado na peça musical End Of The Rainbow do inglês Peter Quilter, o filme acompanha os últimos meses de vida da atriz, cantora e bailarina americana Judy Garland antes de morrer por overdose de barbitúricos aos 47 anos de idade. Intercalado com flashbacks de sua adolescência nos bastidores de gravação do clássico O Mágico de Oz de 1939, vemos uma Judy desgastada, enfrentando uma fase de decadência tanto pessoal quanto profissional.

O longa aborda a perda da guarda dos filhos para o ex marido Sidney Luft, a esperança de recuperá-la, os problemas financeiros, a fracassada turnê de Londres onde ela foi vaiada pelo público devido aos atrasos e postura irresponsável no palco, o abuso de álcool e medicação e, seu quinto e último casamento com Mickey Deans.
Através dos flashbacks podemos entender a origem dos vícios da artista e descobrir o verdadeiro culpado, isto é, a indústria do entretenimento representada pela MGM (Metro Goldwyn Mayer). Desde seus 13 anos Judy era obrigada pela produção, por ordem do presidente da empresa Louis B.Meyer, a tomar medicamentos para inibir o apetite, emagrecer e se manter mais tempo acordada a fim de trabalhar mais horas por dia.

Como era uma garota comum, com medidas comuns, a taxavam de gorda e, por causa disso, não a deixavam nem ao menos comer. Louis repetia o tempo todo que sem ele ela seria apenas mais uma garota caipira de Minesotta, de pernas grossas e dente torto, reforçando o quanto a intérprete de Dorothy foi explorada e abusada fisicamente, psicologicamente e emocionalmente desde cedo.
Nesse aspecto é interessante notar a diferenciação que era feita entre meninos e meninas dentro dos estúdios cinematográficos e como isso ainda pode visto hoje em dia só que de uma maneira mais sutil e velada. Enquanto seu parceiro de cena podia comer o quanto quisesse e ainda era fotografado assim, Judy tinha seu peso controlado por todos.
Apesar do talento do elenco (não só de Renée Zellweger, mas também de Jessie Buckey que vive a assistente de Judy, Rosalyn, e da atriz mirim Darci Shaw que deu vida à estrela na juventude), o filme é fraco. Pra quem for assistir com muita expectativa vai se decepcionar. Como foca nos momentos finais da carreira de Judy, muitos detalhes de sua trajetória são ocultados.
Não explora a relação dela com os pais, o assédio de Louis Meyer que é tão comentado pela mídia e, nem como foi sua morte. Talvez esse último fator não tenha sido mostrado propositalmente para não chocar o público ou para o filme terminar de forma leve, positiva e esperançosa, fazendo as pessoas saírem do cinema com uma imagem alegre e divertida de Judy Garland. Assim, lembrando dela em sua melhor forma; no palco fazendo o que ela mais gostava de fazer: se expressar artisticamente.
Em relação aos pais da artista, só tem duas cenas que eles são mencionados, mas mesmo assim, muito rapidamente e de forma negativa. Na cena que o presidente da MGM diz que o pai dela era “bicha” e que a mãe acha que o melhor pra filha era o que ele próprio determinava como melhor e, na discussão com o ex marido sobre a guarda dos filhos na qual ela diz que sabe o que é ser uma péssima mãe por ter tido uma. Essas falas nos fazem ficar curioso sobre a família dela, mas ficam por isso mesmo já que o filme não nos entrega mais do que isso.
Dessa forma, pode-se dizer que Judy- Muito Além do Arco-Íris é um filme que é melhor apreciado se o espectador tiver conhecimento prévio sobre a história de vida de Judy. Para quem não sabe nada e quiser assistir justamente para conhecer, vai ficar um pouco frustrado, pois muitos momentos importantes foram deixados de lado preferindo retratar apenas fatos específicos.

Contudo, apesar de suas “falhas”, a cinebiografia de Judy consegue deixar bem claro que independente do que ela sofreu nas mãos da mídia, empresários e toda a indústria televisiva, ela realmente amava cantar, dançar e atuar. Odiava o que era obrigada a se submeter para estar ali, mas era totalmente apaixonada por exercer seus dons artísticos. E isso fica claro na cena que mostra que enquanto seu parceiro de palco só quer fazer seu trabalho e ir embora (como aquele funcionário que só bate cartão), ela quer continuar ali apreciando a emoção do espetáculo.
Renée Zelweger já ganhou o Globo de Ouro, o Critics Choice Awards, o British Independent Film Award e o prêmio do sindicato dos atores por sua atuação como Judy Garland. Agora só falta nossa eterna Bridget Jones ser reconhecida no Oscar também. Já estamos na torcida!